All’s well that ends well

Setembro 2, 2011

O Gato termina aqui a sua vida de quatro anos. O outro continua a depositar artigos de jornal aqui.

Terroristas

Agosto 30, 2011

(Publicado no jornal Metro, 28/7/2011)

Francisco Mendes da Silva, no blogue 31 da Armada, demonstrou um certo agrado pelo facto de Anders Breivik ser um terrorista que todo o mundo ocidental pode condenar sem tergiversações. Nada como no 11 de Setembro, onde tantas desculpas se arranjaram para os terroristas. Mas o Francisco esqueceu os infinitos recursos da desonestidade intelectual. Como Breivik é de direita, cristão e anti-islâmico, apareceram logo inúmeros candidatos a pequenos inquisidores (normalmente os mesmos que estiveram dispostos a desculpar os autores do 11 de Setembro) explicando não se tratar de um acto isolado, mas do resultado das ideias de “direita”. No entanto, não me apercebi de ninguém de direita disposto a desculpar Breivik.

Talvez os mesmos inquisidores pudessem ter seguido um caminho diferente. Por exemplo, o caminho psicanalítico, outro must de interpretação da realidade social. Talvez Breivik não seja senão o produto de fundos traumas, resultantes do ambiente familiar e social em que viveu. Estamos a falar da Noruega, o país da tolerância. O pai é um diplomata, que se divorciou da mãe quando Breivik tinha um ano. Breivik sempre viveu desde então (até aos 30 anos) com a mãe numa zona próspera de Oslo, tendo sido educado nos princípios de esquerda partilhados pelos progenitores e nos do “feminismo” perfilhado pela mãe. Breivik responsabiliza aliás tudo isto, juntamente com a educação “liberal” (leia-se, “à balda”, segundo o próprio) que recebeu dos pais, por uma “efeminização” da sua personalidade que lhe desagrada. Foi apenas em adolescente, por rebelião contra os pais, que Breivik adoptou a sua actual filosofia política. Trata-se, afinal, de um rebelde, daqueles que costumam ser tão apreciados.

Esta interpretação seria absurda. Mas não mais do que aquela que culpa a “direita” pelos actos de Breivik. Ao menos o antigo presidente Bush distinguia o Islão daqueles que o usam como justificação para a violência. Os actuais pequenos inquisidores de jornal nem essa simples distinção fazem.

Rosebud

Agosto 30, 2011

(Publicado no jornal Metro, 21/7/2011)

A queda de Rupert Murdoch e do seu império abriram o concurso da indignação fácil contra alguns dos seus jornais (os tablóides, em especial o News of the World), num pacote a que se juntou a sua ideologia “conservadora”. Há coisas estranhas aqui. Em primeiro lugar, os acontecimentos, que já são conhecidos desde 2006-2007. Porquê a súbita indignação agora? Depois, o facto de Murdoch ter feito grande parte da sua carreira em associação com o trabalhismo (australiano, no início, e inglês depois). É verdade que foi durante Thatcher que os seus negócios no Reino Unido tiveram um grande impulso. Mas a sua última grande associação parece ter sido com o trabalhismo de Blair e Brown. É também verdade que Murdoch está na origem do grande canal de direita americano, a Fox News. Mas também se conhece o seu apoio a Obama. Murdoch parece sobretudo alguém preocupado em manter boas relações com toda a gente para melhor estender a sua rede de poder.

O que parece novo agora é o facto de Murdoch ter querido comprar o que lhe faltava do canal de notícias BSkyB, com a aparente conivência da coligação tory-libdem. Acaso se tivesse verificado, a aquisição teria aumentado em muito o poder de mercado de Murdoch, e a sua associação com a coligação seria preocupante para o Partido Trabalhista. Não por acaso, os grandes paladinos das recentes denúncias foram o líder trabalhista, Ed Miliband, e o jornal de esquerda Guardian.

As práticas do News of the World são efectivamente repugnantes, mas, sob outras formas, aparecem em muitos lados. Em Portugal, por exemplo, onde o famoso “jornalismo de investigação” se faz sobretudo com escutas obtidas sabe-se lá como, vale a pena parar para pensar.

Mais interessante é a ligação umbilical entre política e jornalismo, que tolera (instiga?) inacreditáveis deontologias. Já William Randoplh Hearst foi acusado de ter iniciado a Guerra Hispano-Americana de 1898 por glória pessoal. Tudo em nome de Rosebud, o trenó de infância ou o clitóris da amante, conforme as versões.

Mundial 2011

Agosto 30, 2011

(Publicado no jornal Metro, 14/7/2011)

Desde os mundiais de futebol que não se via tal onda de patriotismo. Só faltou o professor Marcelo pedir que pendurássemos uma bandeirinha nacional à janela. A responsável, já se sabe, foi a agência de notação Moody’s e a sua reclassificação da dívida pública portuguesa. Mas foi um estranho patriotismo. Um patriotismo europeísta. Toda a gente apelou para que a “Europa tocasse a rebate” e “acordasse”. O professor Marcelo certamente pediria a bandeira europeia ao lado da portuguesa. Aliás, a Europa também viveu o seu “momento mundial” e descobriu imensas intrigas financeiras internacionais perpetradas pelos americanos. Talvez em Bruxelas se tenham também pendurado bandeiras.

E pronto. Com estes arrebatamentos esqueceram-se logo três pequenas coisas (entre muitas) que com certeza pesaram na decisão da Moody’s:

1) Portugal vive há uma década a crescer de forma anémica (e viveria há duas, não fossem os programas de obras públicas e expansão do Estado dos anos 90); em consequência, vive há uma década a endividar-se à taxa de aproximadamente 10% do PIB ao ano; será este o melhor cenário económico de um devedor credível?

2) A maneira como a UE vem lidando com esta crise não augura nada de bom. De resto, só assim se percebe a reacção europeia à decisão da agência americana. Não foi pelos lindos olhos de Portugal, mas pelo retrato devastador que é feito da abordagem europeia ao problema. Na segunda-feira, aliás, meras 48 horas após o burburinho contra a Moody’s, a UE deu mais um passo que antes jurara nunca vir a dar, ao reconhecer que o melhor caminho para a Grécia é um incumprimento parcial; ou seja, ao reconhecer que a dívida da Grécia é efectivamente “lixo”. Custa imaginar que Portugal seja muito diferente?

3) O célebre “plano da troika” é praticamente impossível de concretizar, como, note-se, têm sido os planos para a Grécia; e mesmo que fosse, provavelmente não serviria de muito.

Não terá afinal sido a Moody’s a verdadeira amiga de Portugal?

Estado de Mal-Estar

Agosto 30, 2011

(Publicado no Diário Económico, 7/7/2011)

Muita gente se espanta pela violência social que vai vendo na Grécia. Porque se revoltam os gregos contra programas que ostensivamente procuram consertar o país? Não percebem eles que, revoltando-se, tornam tudo ainda mais difícil? Provavelmente percebem, mas sobretudo percebem que os programas de austeridade e “reformas estruturais” são o fim da civilização que foram construindo nas últimas décadas, a civilização do Estado de Bem-Estar (Welfare State), a que chegaram atrasados. Como, de resto, chegaram os portugueses, que se preparam agora para tomar também do mesmo xarope. Ignora-se se os portugueses vão chegar aos extremos de violência dos parceiros gregos. Talvez o envelhecimento da população portuguesa, por oposição à maior juventude da grega, ajude a que não aconteça. Mas ninguém se espante se um dia as coisas mudarem.

No caso de Portugal, o Estado de Bem-Estar construiu-se soprado por três efeitos, que por vezes concorreram simultaneamente, por vezes alternadamente, no último caso insuflando um pouco mais as velas quando o efeito anterior deixou de se fazer sentir. O primeiro foi o crawling peg, o sistema de desvalorização mensal utilizado pelo país entre 1977 e 1990, que embaratecia as nossas exportações e dificultava as importações, permitindo evitar que nos confrontássemos com a nossa baixa produtividade. O segundo foi o bónus do crescimento mundial (e europeu) da segunda metade dos anos 80, co-adjuvado por uma insólita vaga de investimento estrangeiro e pelos famosos “fundos estruturais” da CEE. O terceiro seguiu-se a este e consistiu nas receitas das privatizações, acompanhadas da queda das taxas de juro resultante da política monetária para a entrada no euro; ambas as coisas permitiram uma estranha combinação: explosão da despesa pública, redução da dívida pública e reequilíbrio orçamental; como é evidente, isto só pôde existir muito transitoriamente.

Agora, haveria apenas uma maneira rápida de continuar na mesma rota: sair do euro e regressar à manipulação cambial para votar a soprar as velas. Na incapacidade de o fazer, sobra o desmantelamento desta civilização, que é o que nos propõe a dita “troika” e o novo Governo: reduzir funcionários públicos, os programas de Saúde e de Segurança Social. Não é uma questão de ideologia. É uma questão de dinheiro. O PSD é tão responsável pela construção do Estado de Bem-Estar quanto o PS. O PS andou o último ano e meio a inaugurar estas hostilidades.

Mas se, no início, o grande problema é o dinheiro, no final não é: se vamos desmantelar esta civilização, qual será a que podemos oferecer em alternativa? Se a democracia de Bem-Estar não pode sobreviver, o que pode existir no seu lugar?

Austeridade e crescimento

Agosto 30, 2011

(Publicado no jornal Metro, 7/7/2011)

Por aquilo que se vai vendo por aí, parece que a grande questão das agora célebres “economias periféricas” do euro (onde se inclui Portugal) é a austeridade para equilibrar as finanças públicas. Mas a grande questão não é essa. A grande questão é o crescimento económico. Vendo bem, Portugal anda há mais ou menos dez anos (desde 2002 e descontando o ano de 2009) a aplicar diferentes versões de austeridade, de maior ou menor intensidade. E ao mesmo tempo que as aplicou viveu a sua pior década de crescimento desde finais do século XIX. Não quer dizer que haja uma relação de causa-efeito imediata entre as duas coisas, mas certamente que os programas orçamentais restritivos não ajudaram muito, em combinação com um nível de produtividade que nos torna pouco competitivos e um câmbio que o acentua. O problema está, portanto, para lá da austeridade. O propósito da austeridade é apenas garantir uma tesouraria positiva, através dos empréstimos externos: equilibradas as contas, se for possível equilibrá-las, como vai a economia e o país sustentar-se crescendo?

O primeiro acto do novo Governo foi insistir na austeridade, com o novíssimo imposto extraordinário, bem brutal, por sinal. Claro que há muitas promessas de “reformas estruturais”, visando o crescimento: redução da TSU, reforma do mercado de trabalho, reforma da Justiça, e outras coisas menos relevantes. Mas tudo isto servirá para compensar não só o efeito da austeridade, que em si mesma trava o crescimento, como também da produtividade, que é metade da alemã e três quartos da espanhola, e do colete de forças do euro, que encarece os nossos produtos no mercado mundial (sobretudo europeu). É suficiente? Julgo que nem os seus proponentes têm a certeza. A parada é muitíssimo alta e, se não resultar, a austeridade, que é aquilo que de certeza todos vamos sentir, poderá ter sido um enorme e trágico exercício de futilidade, cujas consequências estamos já a pagar e voltaremos a pagar mais tarde.

Democratas

Julho 6, 2011

Por via do André, tomo conhecimento deste triste exercício de assassínio de carácter. É também triste pela ignorância envolvida, seja própria seja presumida nos leitores (não sei). Brevemente:

1. Carl Schmitt não é um crítico da democracia, é um crítico do liberalismo.  Schmitt acreditava no poder de excepção do soberano. Como, no mundo contemporâneo, o soberano é o povo,  Schmitt acreditava que todo o poder de excepção no mundo contemporâneo se teria de fundar na democracia. Acusar alguém de ser liberal, anti-democrático e schmittiano é um simples absurdo.

2. Não conheço tudo o que o Miguel escreveu, mas daquilo que conheço, o Miguel apenas é um crítico da democracia na medida em que a democracia envolve uma dimensão conformista, totalitária e liberticida; na medida em que a democracia procura restringir diversas liberdades, incluindo a de pensamento, nomeadamente a liberdade de criticar a democracia – daí o conformismo, o totalitarismo e o liberticídio potenciais na democracia. Daquilo que conheço, o que o Miguel procura é preservar a liberdade no interior da democracia, contra as suas piores tendências. Convém relembrar a velha boutade churchilliana que toda a gente cita e muita parece ainda não ter percebido completamente: a democracia é o pior dos regimes… com excepção dos outros todos (sublinhado meu).

3. A concepção de autoridade do Miguel não é a do seu exercício violento e brutal. A sua concepção é a de uma autoridade suficientemente respeitada para não ter de ser exercida de forma violenta e brutal.

Sei que é fútil o que acabo de escrever. Já a esquerda toda anda a cavalgar a patacoada. A fama está criada e acompanhará o Miguel Morgado para o resto da sua vida: a partir de agora será sempre “o tipo que não gosta da democracia”. Parabéns!

Adeus às armas

Julho 5, 2011

(Publicado no jornal Metro, 30/6/2011)

As democracias ocidentais nem sempre são bons parceiros militares. Oscilando entre o espírito de missão, que durante algum tempo as faz não pensar em mais nada, e a passividade de quem gosta muito de chorar a desgraça do outro mas à distância, de preferência pela televisão, nunca se sabe muito bem o que vão fazer. A semana passada, o presidente Obama anunciou o princípio da retirada do Afeganistão, apenas dois anos depois de ter lançado mais 30.000 soldados no terreno, para uma arrancada final vitoriosa. Como toda a gente se lembra, o Afeganistão era a “guerra necessária”, por oposição à “guerra de escolha” (uma má escolha) do Iraque. Passou o tempo e a arrancada não resultou. Mas Obama quer-nos fazer crer que sim (talvez querendo convencer-se a si próprio). Ao contrário do que disse (acentuando a presumível derrota da al-Qaeda), os soldados americanos vão deixar atrás de si um país pronto para a guerra civil. Coisa que se juntará ao lamentável episódio líbio, onde as tribos se encontram já em plena guerra civil. No outro dia, o secretário da Defesa americano queixou-se de que os países europeus, ao fim de apenas onze semanas de combates, já não tinham munições para continuar a ajudar os seus amigos “rebeldes”. Entretanto, a coligação é um saco de gatos. Ou consegue um avanço final e rápido, ou certamente abandonará a Líbia em pleno banho de sangue.

No meio disto, sobra uma intervenção bem sucedida, a do Iraque. Curiosamente, aquela que toda a gente detestou, que envenenou as relações internacionais na última década, que determinou a desgraça do anterior presidente americano e em parte elegeu Obama. E aquela de que, ainda hoje, ninguém fala. O Iraque está longe de ser a perfeição, mas expulsou um dos mais horríveis ditadores do mundo e mantém uma interessante funcionalidade democrática. Porque não se alegram os países ocidentais com este seu contributo? As democracias do ocidente devem parecer muito estranhas vistas a partir do deserto da Líbia.

Comprar tempo

Junho 18, 2011

(Publicado no jornal Metro, 16/6/2011)

O mais famoso, mais amado e mais odiado documento de Portugal no corrente ano de 2011, o Memorando de Entendimento entre o Estado português e a União Europeia, corre sérios riscos de se transformar rapidamente numa irrelevância, ultrapassado pelos acontecimentos. Os acontecimentos seguem já um curso preocupante na Grécia, país sobre o qual se fala cada vez mais de incumprimento parcial da dívida, através do alargamento do prazo para pagamento e da assunção de responsabilidades pelos credores, em vez dos actuais pacotes de ajuda que os preservam. Se isso acontecer, a UE estará a reconhecer (sem reconhecer) o falhanço das suas políticas de austeridade e reforma aplicadas à Grécia. E nessa altura tudo deverá regressar à mesa de negociações. Não é um grande salto lógico imaginar que as propostas do Memorando para Portugal acabem com o mesmo resultado. Seria bom nessa altura que o novo Governo compreendesse que foi mandatado para defender os interesses do povo português e não necessariamente para aplicar as medidas da “troika”.

Mas um incumprimento na Grécia (e/ou em Portugal e/ou noutros países) é mais do que isto. Através dele, a UE reconhece (sem reconhecer) que a solidariedade entre os países-membros tem limites bem apertados. Na realidade, tudo o que foi feito até agora, incluindo a possibilidade de incumprimento, não passa de um conjunto de acções que visa comprar tempo, procurando evitar o momento em que a UE teria de se assumir enquanto união orçamental (e, logo, política). Ou isso, ou admitir que a União Monetária não tem viabilidade, o que é o exacto contrário do anterior, ou seja, que os países que a constituem devem seguir caminho fora dela. Como estas alternativas estão, por enquanto, no reino do inimaginável, compra-se tempo na esperança da ocorrência de qualquer coisa (o quê?) que acabe com o imbróglio.

Estaria na altura de saber que ideias o Governo português saído das eleições tem a este respeito. O seu futuro, e o do país, podem jogar-se aqui.

Espectros

Junho 14, 2011

(Publicado no Diário Económico, 9/6/2011)

Parece que o Presidente da República sempre tinha razão quando dissolveu o parlamento, provocando eleições antecipadas. Recorde-se que aqui há meses (semanas, mesmo) era moda criticar o Presidente por “não ter procurado consensos no anterior quadro parlamentar”. Até domingo, graças ao agora célebre “empate técnico” das sondagens, andámos todos na expectativa de um resultado que não clarificasse, demonstrando a inutilidade das eleições. Afinal, mantém-se a regra implícita de que, quando dissolve, o Presidente interpreta bem a vontade de mudança do seu soberano, o povo português. Ainda não foi desta que se descredibilizou o método do golpe de Estado constitucional que o nosso semi-presidencialismo consagra e constitui um instrumento de regularização do sistema político. Este (o do falhanço do Presidente) foi um dos espectros que andou a pairar por aí até às eleições.

Outro foi, precisamente, o do “empate técnico” (e mais algumas predições). Os erros das sondagens cansam, e cansaram desta vez ainda mais por causa do fartote (de sondagens e de erros): os mais graves foram o “empate técnico”, a “ligeira” vitória do PSD (para o fim da campanha), o PS a “aguentar-se”, mesmo perdendo, e o CDS a chegar quase aos 15% (uma chegou a dar-lhe 18%!). Foi exactamente o contrário que aconteceu: o PSD teve uma vitória histórica (apenas superada pelas maiorias absolutas de Cavaco e pelos 40% de 2002), o PS uma derrota histórica (apenas superada pelas de 1985 e 1987) e o CDS manteve-se por onde vem andando, com uma ligeira subida.

Tudo isto alimentou um outro espectro, que planou pelo país antes e durante a campanha, o da necessidade do Bloco Central (talvez até alargado para incluir o CDS). O resultado das eleições não o podia ter afastado com mais clareza. Os dois partidos da direita nunca tiveram um resultado tão bom, se exceptuarmos os tempos de Cavaco. E têm agora uma legitimidade que deveria dispensar a suposta necessidade de “entendimentos” com o PS. Que o PS não vai facilitar e se vai transformar numa espécie de Partido Comunista na oposição, já se espera. Mas isso não deveria tolher os novos detentores do mandato popular.

Onde chegamos ao último espectro: viu-se pelo discurso de vitória que o PSD espera ser o administrador dos remédios da troika. Talvez me engane, mas o novo Governo é capaz de vir a ter de ser o administrador da reestruturação ordeira da dívida externa portuguesa e, nesse caso, talvez mesmo da saída ordeira do euro. Ainda que consiga evitar essa sorte, valeria a pena convidá-lo a elaborar um plano de contingência, pois o dia poderá chegar em que tenha de o fazer. E esse dia terá de o apanhar (e a nós) muito bem preparado(s).