Por via do André, tomo conhecimento deste triste exercício de assassínio de carácter. É também triste pela ignorância envolvida, seja própria seja presumida nos leitores (não sei). Brevemente:
1. Carl Schmitt não é um crítico da democracia, é um crítico do liberalismo. Schmitt acreditava no poder de excepção do soberano. Como, no mundo contemporâneo, o soberano é o povo, Schmitt acreditava que todo o poder de excepção no mundo contemporâneo se teria de fundar na democracia. Acusar alguém de ser liberal, anti-democrático e schmittiano é um simples absurdo.
2. Não conheço tudo o que o Miguel escreveu, mas daquilo que conheço, o Miguel apenas é um crítico da democracia na medida em que a democracia envolve uma dimensão conformista, totalitária e liberticida; na medida em que a democracia procura restringir diversas liberdades, incluindo a de pensamento, nomeadamente a liberdade de criticar a democracia – daí o conformismo, o totalitarismo e o liberticídio potenciais na democracia. Daquilo que conheço, o que o Miguel procura é preservar a liberdade no interior da democracia, contra as suas piores tendências. Convém relembrar a velha boutade churchilliana que toda a gente cita e muita parece ainda não ter percebido completamente: a democracia é o pior dos regimes… com excepção dos outros todos (sublinhado meu).
3. A concepção de autoridade do Miguel não é a do seu exercício violento e brutal. A sua concepção é a de uma autoridade suficientemente respeitada para não ter de ser exercida de forma violenta e brutal.
Sei que é fútil o que acabo de escrever. Já a esquerda toda anda a cavalgar a patacoada. A fama está criada e acompanhará o Miguel Morgado para o resto da sua vida: a partir de agora será sempre “o tipo que não gosta da democracia”. Parabéns!